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29 janeiro, 2009

As políticas públicas para reforma agrária e transformações ocorridas no assentamento Real, Colinas-TO

* Adriana Rodrigues Rezende, Ana Regina C. de Oliveira, Mª Aparecida P. L. Mendonça, Mª de Fátima A. de Arruda, Mª José B. Pires, Mª Monte Serrat E. da Silva, Vanda Luzia G. de Oliveira
**Eonilson Antonio de Lima
***Profª Adelma Ferreira de Souza


Este artigo se propõe a identificar as políticas públicas da Reforma Agrária aplicadas no Assentamento Real no Município de Colinas do Tocantins, bem como, analisar as mudanças ocorridas a partir da chegada destas políticas neste assentamento. A abordagem utilizada foi dialética, o método foi o Estudo de Caso e as técnicas foram entrevistas semi-estruturadas, observação direta, questionário fechado e aberto. Os resultados encontrados foram: das 34 famílias que foram assentadas permanecem no assentamento apenas 22 famílias, essa evasão ocorreram pelas dificuldades que enfrentaram no inicio do assentamento, já que, as condições de vida eram precárias, moraram em barracos de lona por um ano e meio até sair à desapropriação da terra, passaram por grandes privações como alimentação e moradia, mas, depois foram contemplados, com os créditos Fomento, Habitação e PRONAF. Nos anos de 99 a 2000, tiveram Assistência Técnica pelo Projeto Lumiar, serviço terceirizado pelo INCRA, em 2002 tiveram a Assistências técnica da RURALTINS, mas de forma irregular, desde então estão sem orientação técnica. As famílias avaliaram que com a implantação das atuais políticas publicas como escola, agente de saúde, energia “Luz para Todos”, e por último o saneamento básico com as construções dos banheiros houve um grande avanço no desenvolvimento do assentamento e de suas vidas, pois resgatarem a sua dignidade, diferente de quando eram marginalizados na periferia de Colinas do Tocantins. Mas, as famílias avaliam que o assentamento precisa melhorar em outros aspectos como a implantação do Posto de Saúde e atendimento médico na zona rural, transporte para a comercialização dos produtos e desenvolvimento de atividades de lazer para comunidade.

Palavras-chave: Reforma agrária, Políticas Publicas e Assentamento Rural

(Resumo apresentado no I Simpósio do Nurba - 25 a 27 setembro de 2008)

* Graduandas do Curso de Serviço Social da Faculdade Integrada de Ensino Superior de Colinas- TO.

** Co-orientador: professor de História da Rede Estadual de Ensino

*** Orientadora: professora das Disciplinas de Pesquisa Social II e Movimentos Sociais no curso de Serviço Social- FIESC e Mestranda em Ciências do Ambiente - UFAM

Aspectos socioculturais e econômicos sobre o modo de produção da comunidade afro-descendente São Joaquim no município de Porto Alegre-TO

Aniel Rodrigues Valadares*
Elizeu Ribeiro Lira**

A Comunidade São Joaquim está situada na microrregião de Dianópolis, segundo a divisão regional feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais especificamente no Município de Porto Alegre-TO é composta por 40 famílias afro-descendentes que migraram das minas de ouro de Natividade e Almas, em função da crise da mineração e do fim da escravidão no final do Século XIX. Consta na memória dos habitantes mais velhos da comunidade que são povos Liandro Quilambé, oriundos de Pilão Arcado na Bahia que foram trazidos pelo bandeirante Bernardo Homem para trabalharem como escravos nas minas de ouro da região. “Nessa época existia o capitão do mato que antes trabalhava como bandeirante e logo depois passou a ser um mandado pelos seus para capturar os negros que fugiam das senzalas” (Dona Domingas, 2008).

O modo de produção da comunidade está baseado na divisão, por sexo, de trabalho; os homens trabalham na roça e as mulheres nas atividades da casa, cozinha e tecelagem. A comunidade São Joaquim com sua pacata vida rural é possuidora de conhecimentos raros e de uma história fascinante que desvela acontecimentos históricos de grande importância cultural para a região e para os moradores que possuem uma tradição popular e de características peculiares. Nesse sentido entendemos que tal tradição merece um olhar diferenciado pelas Secretarias Municipais, Universidades, ONGs e Institutos de Pesquisa. Dessa forma, se faz necessário o resgate de estudos sobre comunidades tradicionais sendo que as mesmas representam a história do modo de vida de uma grande parte do povo brasileiro. Por esses pressupostos a presente pesquisa tem como principal objetivo entender o modo de produção tradicional da comunidade afro-descendente São Joaquim no município de Porto Alegre-TO e sua importância nas tradições sócio-culturais e econômicas em sua luta e resistência de permanência na terra. Nossos procedimentos teórico-metodológicos serão baseados em trabalhos de campos, estudos documentais referentes à comunidade e de uma revisão teórica baseada em autores da geografia e de outras ciências humanas, partindo de um enfoque do materialismo histórico dialético.

Palavras-chave: Comunidades Tradicionais, Cultura Afro-Brasileira, Agricultura Tradicional.

(Resumo apresentado no I Simpósio do Nurba - 25 a 27 setembro de 2008)

*Acadêmico de Geografia da Universidade Federal do Tocantins, Campus Acadêmico de porto Nacional-To, Membro do Núcleo de Estudos Urbanos Regionais e Agrários - NURBA, bolsista do Cnpq.
E-mail: anielvaladares@bol.com.br

** Orientador, Professor Doutor do Curso de Geografia da Universidade Federal do Tocantins - Campus Universitário de Porto Nacional, Coordenador do
NURBA. E-mail: liraelizeu@uft.edu

Associações de artesanato do capim dourado na região do Jalapão: um estudo de caso do município de Ponte Alta do Tocantins

Aline Tavares de Sousa*
Roberto de Souza Santos**

A Região do Jalapão localiza-se no extremo leste do estado do Tocantins, divisa com os estados da Bahia, Piauí, e do Maranhão. É a região que agrega um importante e peculiar recurso natural. Dentre eles, o capim dourado, que a partir da década de noventa se insere como um produto da economia regional, na categoria de produtos artesanais do Estado do Tocantins. Discutir conceitos de região teoricamente, não é tarefa fácil, isto é, o conceito ou noção de região está relacionado com o método de interpretação a ser adotado. Para LIRA (2004), análise de região necessariamente deve passar pelo crivo das relações de poder e dos conflitos de classes em uma determinada porção terrestre formando assim, uma unidade regional complexa. As atividades econômicas dos municípios que formam o Jalapão são os cultivos de milho e arroz e pecuária de pequenos rebanhos suficientes apenas para a subsistência, mais essas práticas estão sendo substituídas pela produção do artesanato a partir de Capim Dourado, tendo em vista melhor forma para obter lucro. O artesanato de capim dourado é realizado na Comunidade da Mumbuca (Mateiros) mais todos os municípios já manuseiam então começam a surgir às primeiras associações de produtores tendo os turistas como principal mercado consumidor. A Associação dos Artesãos do Capim Dourado Pontealtense (ACDP) foi criada em 2003 pela sociedade civil sem fins lucrativos e por ter essa finalidade está necessariamente vinculada ao “fim público”, ou seja, de acordo com VEIGA e RECH (2001) o seu objetivo primordial é o de servir desinteressadamente á coletividade de forma exclusiva ou predominantemente. O que não significa que as associações não possam realizar atividades de natureza econômica. Nesse sentido, o presente trabalho visa verificar o papel das associações de Capim Dourado do Jalapão e suas relações sócio-culturais e econômicas no território do Jalapão.

Palavras-chave: Capim Dourado, Associações, Região.

(Resumo apresentado no I Simpósio do Nurba - 25 a 27 setembro de 2008)

*Aluna do Curso de Geografia, da Universidade Federal do Tocantins/UFT, Campus de Porto Nacional acadêmica PIVIC e Monitora da Disciplina Geografia Regional e Espaço Mundial, Membro do Núcleo de Estudos Urbanos Regionais e Agrários - NURBA ;
atavares@uft.edu.br

**Orientador Profº Dr. do Curso de Geografia de Porto Nacional/UFT Pesquisador do Núcleo de Estudos Urbanos Regionais e Agrários - NURBA;
robertosantos@uft.edu.br

Depois da UHE de Lajeado: um estudo do cotidiano do reassentamento de Luzimangues

Aline Gonçalves Sêne*
Dilsilene Maria Ayres de Santana**

A pesquisa refere-se a um olhar sobre o cotidiano do reassentamento de Luzimangues, localizado no município de Porto Nacional, Tocantins. Reassentamento constituído no início de 2000 por 83 famílias, a partir da construção da UHE Luis Eduardo Magalhães. Famílias oriundas das fazendas e vilas Ribeirão do Maia, Sapezal, Brejinho da Vila da Balsa e Mutuca, e dos loteamentos Maria da Balsa e Vila Luzimangues, localizadas às margens do Rio Tocantins.

Um estudo da desconstrução da identidade ribeirinha no processo de inundação da antiga morada às margens do rio e a reconstrução de uma nova vida em meio ao cerrado. A referência metodológica da pesquisa foi a etnografia, amparada na revisão bibliográfica, observações e entrevistas. O trabalho de campo foi realizado em dois meses, muitas visitas, conversas, xícaras de café e fotografias com os reassentados, um aprendizado sobre as relações socioeconômicas e culturais.

A partir do estudo avaliamos que o Rio Tocantins é um marco na identidade cultural desse povo, as famílias lutam para não deixarem os hábitos e a cultura de um ribeirinho. A relação desse povo com o rio é forte e vai além das formas de plantações, pesca e extrativismo, está ligado com o reconhecimento de seu lar. A modificação do rio, o desaparecimento das praias e ilhas, da fauna, da flora inferem no cotidiano desses atingidos, interfere diretamente na sua maneira de ver o que o cerca.

Observamos que uma hidrelétrica gera, além do impacto ambiental, social, um grande impacto na cultura de um povo, nas suas crenças, no seu jeito de cultivar a terra, de se relacionar com a família, de comercializar suas produções, de se alimentar.

Palavras-chave: 1.Estudos culturais. 2.Reassentamento. 3.Desterritorialidade.

(Resumo apresentado no I Simpósio do Nurba - 25 a 27 setembro de 2008)

*SÊNE, Aline Gonçalves. Comunicação Popular: um estudo das mediações no reassentamento de Luzimangues. 2007. 60p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social – Jornalismo) – Universidade Federal do Tocantins, Palmas, 2007. (E-mail:
allinesene@gmail.com)

**Orientadora: Dilsilene Maria Ayres de Santana (
dilse@uft.edu.br)

Co-orientador: Paulo Rogério Gonçalves (
apa-to@uol.com.br)

As redes do bairro: o amálgama de relações no/com o Jardim Aureny I

Aldenilson dos Santos Vitorino Costa*

Neste trabalho partimos da idéia de redes de relações que os moradores do bairro Jardim Aureny I, situado em Palmas – TO têm em relação ao bairro e regiões circunvizinhas. Versamos sobre questões tais como: Como se dão essas relações? Por que os moradores estabelecem ou não redes com outros bairros e principalmente com o Centro da cidade? È certo que o bairro objeto de estudo a princípio não estava no Plano Diretor Inicial da cidade, mas que aos poucos se insere no contexto urbano da mesma, no intuito de romper com toda a idéia de cidade planejada que se tem sobre Palmas. Deste modo procuramos entender como se configuravam as redes de relações entre os moradores e outros bairros e o Centro da cidade, e se no caso trabalhado as relações eram intrínseca ou extrínseca. Assim sendo, aplicamos um questionário em alguns dos moradores do bairro, no intuito de sabermos quais as ligações entre os moradores do Jardim Aureny I, demais bairros e o centro da cidade de Palmas. Percebeu-se que o bairro ainda é, para muitos dos seus moradores, um lugar afável, e que ora tende a confirmar a segregação que existe entre o Centro da cidade e o bairro, ora não. Deste modo, foi analisada uma parcela do espaço urbano de Palmas, no intuito de identificar se a segregação social nascida com bairro ainda persiste, o que observamos que sim.

Palavras-chave: rede de relações, bairro, segregação

(Resumo apresentado no I Simpósio do Nurba - 25 a 27 setembro de 2008)

*Licenciado em Geografia pela Universidade Federal do Tocantins. Bacharelando em Geografia pela Universidade Federal do Tocantins. E-mail:
alsvcosta@gmail.com

28 janeiro, 2009

A questão agrária das comunidades negras do Tocantins

Adelmir Fiabani - UFT*

As comunidades negras rurais brasileiras formaram-se durante o período escravista e nos primeiros anos pós-Abolição. Algumas comunidades originaram-se de quilombos. Outras, formaram-se em terras doadas por senhores, ocupadas ou adquiridas por escravos, livres ou libertos. Em sua maioria, apresentam problemas agrários. As razões que levaram os camponeses negros a não regularizarem seus domínios são diversas: desconhecimento da lei, da língua portuguesa escrita, a falta de recursos, a burocracia e outros. A fragilidade ou inexistência da documentação facilitou a ação de espertalhões, fazendeiros e grileiros que se apossaram das terras das comunidades negras. Com o advento da Constituição de 1988, as comunidades negras perceberam que poderiam ser reconhecidas como remanescentes de quilombos e, consequentemente, terem seus problemas fundiários solucionados pelo Estado. Atualmente, o movimento das comunidades negras rurais está organizado em todo território nacional. Em Tocantins existem várias comunidades negras com origens diversas. Também, verificamos que as mesmas enfrentam problemas relacionados à posse da terra. Esta comunicação objetiva apresentar parte da pesquisa realizada sobre as comunidades negras rurais brasileiras, no que diz respeito a questão agrária. Para este trabalho, realizamos entrevistas com integrantes das comunidades, analisamos laudos antropológicos, utilizamos informações de reportagens em jornais, revistas e mídia eletrônica. Também, nos valemos das informações da Fundação Cultural Palmares e INCRA, além de significativa bibliografia especifica sobre o tema.

Palavras-chave: Comunidades negras, terra, grilagem, afirmação étnica.

(Resumo apresentado no I Simpósio do Nurba - 25 a 27 setembro de 2008)

*FIABANI, Adelmir. Mestre em História pela Universidade de Passo Fundo – UPF, doutorando em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, autor do livro Mato, palhoça e pilão: o quilombo, da escravidão às comunidades remanescentes [1532-2004]. São Paulo: Expressão Popular, 2005; professor assistente de História da África da UFT; pesquisador do CNPq sobre a temática “comunidades negras rurais”. E-mail: adelmirfiabani@hotmail.com

26 janeiro, 2009

Uma breve história do Fórum Social Mundial

Emir Sader

O Fórum Social Mundial já tem história. Uma história que não pode ser entendida separada daquilo que lhe deu nascimento e a que ele está intrinsecamente vinculado: a luta contra o neoliberalismo e por um mundo posneoliberal – que é o sentido de seu lema central “Um outro mundo possível”.

Nas suas origens está o “grito zapatista” de 1994”, conclamando à luta global contra o neoliberalismo. Em seguida, veio o editorial do Le Monde Diplomatique, de Ignacio Ramonet, chamando à luta contra o “pensamento único”, seguida pelas manifestações em Seattle, que impediram a realização da reunião da OMC e as outras, em tantas cidades do mundo. Enquanto isso, se realizavam anualmente manifestações na Suiça, chamadas de anti-Davos.

Até que, com o crescimento da resistência ao neoliberalismo, se pensou no projeto de organizar um Forum Social Mundial em oposição ao Forum Economico de Davos. A idéia foi de Bernard Cassen, jornalista francês que naquele momento dirigia a Attac, que ao mesmo tempo propôs que a sede fosse na periferia do sistema – onde residem as vitimas privilegiadas do neoliberalismo -, na América Latina – onde se desenvolviam os principais movimentos de resistência, no Brasil – que tinha a esquerda mais forte naquele momento – e, em particular, em Porto Alegre – pelas políticas dos governos do PT, de Orçamento Participativo.

O FSM passou assim da sua pré-história à sua história, com a série de 6 FSMs realizados desde então. Depois do primeiro se constituiu um Conselho Internacional, com participação de todas as entidades que quisessem se incorporar, porém a direção continuou em um estrito grupo de entidades brasileiras, dominadas por ONGs. Este foi um limitante original do FSM, dado que o movimento se apoiava centralmente em movimentos sociais – de que a Via Campesina agrupa a parte significativa deles -, enquanto as ONGs – cujo caráter ambíguo, até mesmo neoliberal pela sua definição anti-governamental, mas também com várias delas com ações obscuras no seu sentido, no seu financiamento e nas suas alianças com grandes empresas privadas – se apoderava do controle da organização, imprimindo-lhe um caráter restrito.

Restrito, porque limitado a um suposta “sociedade civil”, o que já lhe imprimia um caráter liberal, oposto a governos, a partidos, a Estados, bloqueando a capacidade de construção de “um outro mundo possível”, que teria que ser um mundo global, com transformação das relações de poder, do Estado e da sociedade no seu conjunto. Também ficava fora um tema que passou a ser central no mundo conforme os EUA adotavam sua política de “guerras infinitas” – a luta pela paz -, que no entanto representou o momento de maior capacidade de mobilização dos novos movimentos populares no mundo, com as mobilizações de resistência à guerra do Iraque, em 2003.

O Conselho Internacional decidiu a alternância de sedes do FSM, que passou a se realizar em outros continentes, com o que ser realizaram FSMs na Índia e no Quênia, ao mesmo tempo que decidiu que os FSM se realizassem a cada dois anos, alternados por FSM regionais. No entanto o FSM passou realmente a girar em falso conforme a definição inicial de se limitar um espaço de troça de experiências entre entidades da “sociedade civil” foi limitando suas temáticas e sua capacidade de formular alternativas. Nem sequer balanços das maiores mobilizações populares jamais havidas, as contra a guerra do Iraque, foram feitas, para definir a continuidade da luta.

A fragmentação dos temas se acentuou conforme foi decidido que as atividades dos FSM seriam “autogestionadas”, sem definição política dos temas fundamentais, que deveriam ser financiados centralizadamente, promovendo um imenso privilegio das ONGs e outras entidades que dispõem de recursos contra os movimentos sociais – que deveriam ser os protagonistas fundamentais do FSM.

Embora tenha sido eleito um novo Secretariado, pelo voto dos membros do Conselho Internacional, dominado pelas ONGs, somente neste FSM é que se tem a possibilidade de acerto de contas com a realidade existente desde 2001. Seis FSM depois, o “novo mundo possível” tem em governos latinoamericanos progressistas, os agentes da sua construção. Avanços como a Alba, o Banco do Sul, a Unasul, o Conselho Sulamericano de Defesa, além de políticas nacionais como as de refundação dos Estados na Bolívia e no Equador, além do combate ao analfabetismo, das Escolas Latinoamericanas de Medicina, da Operação Milagre, entre outras iniciativas – configuram os principais avanços na luta pelo posneoliberalismo.

Os movimentos sociais que souberam rearticular de maneira criativa suas relações com a esfera política – de que a fundação pelos movimentos bolivianos do MAS – e disputar a criação de novos governos e a construção de projetos hegemônicos alternativos, avançaram significativamente na criação do “outro mundo possível”. Enquanto que os que seguiram refugiados na chamada “autonomia dos movimentos sociais” – como os casos dos piqueteiros argentinos ou dos zapatistas – perderam peso ou até mesmo tenderam a desaparecer politicamente.

O movimento anti-neoliberal passou assim da fase de resistência à fase de construção de alternativas. Este FSM demonstrará se permanece na fase de resistência, de fragmentação de temáticas, de limitação à “sociedade civil” ou se se coloca à altura da etapa atual de disputa hegemônica, já não mais a nível nacional ou regional, mas a nível global, quando a crise capitalista e o esgotamento do modelo neoliberal coloca para o FSM seu maior desafio: ser agente na construção concreta do “outro mundo possível” ou permanecer como espaço de testemunhos, ricos, mas impotentes.

Fonte: Agência Carta Maior

Leonardo Boff defende Plano de Aceleração da Preservação da Amazônia


Clarissa Pont - Carta Maior

A advertência de Leonardo Boff é taxativa: “Trata-se de um novo padrão civilizatório, nós temos que nos acostumar a consumir menos”. Em entrevista à Carta Maior, o doutor honoris causa em Política pela universidade de Turim (Itália) e em Teologia pela Universidade de Lund (Suécia), fala sobre a Teologia da Libertação, o Fórum Social Mundial, a crise econômica e ecológica mundial e a eleição de Barack Obama.

Ele resume nos três erres da Carta da Terra o novo paradigma sob o qual a humanidade terá que viver para sobreviver: reduzir, reutilizar e reciclar. Além disso, defende que o FSM tem o dever de pressionar o governo brasileiro a melhorar sua política para a preservação da Amazônia, avançando principalmente na questão fundiária.

Carta Maior – Qual a avaliação que o senhor faz sobre a atuação de Joseph Alois Ratzinger, o Papa Bento XVI, e da postura dele em relação à Teologia da Libertação?
Leonardo Boff –
Quanto à figura de Ratzinger, seja como mestre, como prefeito da congregação ou como Papa, eu diria que não há mudança substancial entre as opiniões. Ele sempre manteve uma linha teológica de fundo inalterável, isto é, o projeto de construir a Igreja para dentro, reforçar as instituições eclesiásticas e a autoridade do Papa, revalidar o direito canônico, sublinhar uma leitura dogmática da fé cristã. Eu diria que em alguns destes aspectos ele, inclusive, radicalizou no sentido de que a fala de um Papa é muito mais poderosa do que a fala de um prefeito de uma congregação, porque eles têm como objeto as doutrinas, enquanto o Papa tem como destinatário toda a Igreja.

Na medida em que esse Papa insiste enormemente que igreja mesmo é só a Católica e continua repetindo que as demais igrejas não são igrejas e que as demais religiões necessitam de salvação, ele toma para si um fundamentalismo light. Por que fundamentalismo? Porque acentua de tal maneira a própria doutrina que exclui as demais e isso não parece ser a perspectiva do cristianismo originário, nem a perspectiva bíblica. Eu diria ainda que este projeto pastoral não é uma mensagem para a humanidade, mas é para reconverter a Europa. Para nós, do Terceiro Mundo, optar pela Europa é optar pelos ricos e por um projeto de antemão falido porque os europeus não estão interessados em reconversão. Na minha interpretação, isso é ter o cristianismo nas costas e não na frente, é um cristianismo crepuscular e não um cristianismo de rejuvenescimento. A mensagem correta seria colocar no centro da preocupação a vida, porque o mundo não ama mais a vida, sacrifica a vida, faz comércio com a vida.

CM – Neste mundo onde o consumo está além do que o mundo é capaz de produzir e regenerar, qual é a mudança necessária para que a crise não se transforme em tragédia?
Leonardo Boff –
Como a crise é global, ela afeta todas as pessoas, todas as instituições, todos os grupos e todas as forças. O bom seria que cada instituição, igreja, universidade, sindicato, cada grupo humano pudesse, a partir do seu capital acumulado, dar uma contribuição no sentido dos três erres empregados pela Carta da Terra. O primeiro erre é reduzir o consumo. Nós podemos viver bem com menos, quase 90% de tudo que é produzido é supérfluo, atende necessidades suscitadas por um tipo de cultura consumista que abafou a ética e que reduziu a política a uma função da economia. Tudo é feito mercadoria, com tudo se faz negócio. Então é reduzir o consumo porque a Terra não agüenta.

Segundo, temos que aprender a reutilizar aquilo que nós usamos e ter a engenhosidade de dar outras utilidades para os produtos que nós usamos. Seja geladeira, roda ou roupa. Enfim, é reduzir, reutilizar e reciclar. Um dos grandes problemas do mundo hoje é o que fazemos com os rejeitos. Porque o que o sistema mundial mais produz hoje não são máquinas ou eletrodomésticos, é lixo. Nova Iorque tem que levar seu lixo a 300 km de distância porque não sabe onde colocá-lo. Se esse não for um caos criativo, será um caos destrutivo. Trata-se de um novo padrão civilizatório, nós temos que nos acostumar a consumir menos. Talvez agora não sintamos tanta urgência porque a máquina produtiva e consumista está funcionando, mas na medida em que a crise deixa as bordas e vai para o centro a sociedade sentirá a necessidade de fazer mudanças. De outra forma, essa crise terá conseqüências funestas.

CM – A Amazônia, tema deste Fórum, também é vítima desta crise...
Leonardo Boff –
A Amazônia é o lugar de teste de um novo paradigma. É o patrimônio maior da biodiversidade da humanidade. É a maior reserva de água doce do mundo, 13% de toda água doce do mundo está no Brasil e depois no Canadá. Na Amazônia se dá o equilíbrio dos principais climas de toda a América. Apesar de toda essa luxuriante riqueza, o equilíbrio da Amazônia é extremamente frágil, é um dos solos mais pobres de todo o planeta com terras arenizadas. O húmus de grande parte da Amazônia não passa de 30 ou 40 centímetros. Se não forem feitas políticas muito bem dirigidas para a Amazônia, em função do agronegócio e da expansão da soja e do gado, há o risco que em 30 ou 40 anos haja uma vasta savanização da floresta. A humanidade inteira olha com preocupação para Amazônia.

CM – E como garantir uma perspectiva de futuro pós-crise do capital?
Leonardo Boff –
Eu lembro aqui uma frase de Gorbachev na reunião da Carta da Terra, em Amsterdã. Ele disse que o modelo imperante de produção e consumo não tem mais condições de garantir um futuro para a humanidade, nós temos que garantir uma coalizão de forças ao redor de novos valores e de um novo paradigma civilizatório. Não é uma questão de querermos ou não. Nós somos forçados a buscar saídas. Caso contrário, e essa é a tendência um pouco do capitalismo, é suicídio. Marx, no terceiro tomo do Capital, explica a lógico do sistema financeiro. É um dos livros mais lidos do mundo inteiro hoje e lido, especialmente, por aquelas pessoas inteligentes dos mercados que erraram e que se perguntam por quê. Marx diz que a tendência do capital é destruir as duas bases que o sustentam, a força de trabalho e a natureza. Nós temos que buscar saídas numa economia plural, em muitas formas de produção. Talvez a China poderá ser um aceno, embora o modo de produção principal chinês seja capitalista.

Nós vivemos sob o pensamento único do mercado, sob o fundamentalismo do modo de produção capitalista. Esse modo de produção sozinho não conseguirá responder as demandas humanas. Pede-se uma economia política múltipla que exista conforme os ecossistemas. Chico Mendes viu isso na Amazônia com claridade. A nova economia vai nessa direção, se opõe ao globalismo. E cria uma economia regional, onde não há problema de transporte, e existe a valorização das tradições culturais.

CM – O Fórum Social Mundial começa em poucos dias, justamente aqui em Belém do Pará. O Brasil vai estar em foco no sentido de que o mundo todo espera um plano específico e claro para o território Amazônico...
Leonardo Boff –
Eu creio que o Fórum tem o desafio de pressionar o governo brasileiro para fazer uma política clara, explícita e objetiva sobre a Amazônia. No meu modo de entender, o governo ainda não elaborou nenhum plano singular detalhado sobre a Amazônia. São políticas pontuais para resolver conflitos de terra e para impedir desmatamento em algumas regiões. Fundamentalmente o que tem que ser resolvido é a questão fundiária. É necessário um Plano de Aceleração não do crescimento, mas da integração e da preservação da Amazônia. O Fórum Social Mundial tem esse dever. Quando o presidente Lula vier aqui no dia 29 de janeiro, posso escutar as vozes das nações dos povos que obrigam o governo a assumir responsabilidade para com a humanidade.

A Amazônia é uma região tão complexa, que envolve tantos problemas para os quais nos não temos sequer os meios financeiros suficientes, nem a acumulação de ciência suficiente para podermos sozinhos enfrentar a riqueza e o valor que esse ecossistema tem para a humanidade.

CM – Na perspectiva internacional, a nova presidência dos Estados Unidos também será um tema essencial durante o Fórum. Qual a importância de Barack Obama nestes debates?
Leonardo Boff –
Eu pessoalmente considero a eleição do Obama algo providencial e absolutamente surpreendente, porque há 40 anos os negros no sul dos Estados Unidos não podiam votar e hoje um negro assume a presidência do país. Isso é um fato absolutamente inédito, que a gente só pode explicar pelas leis da evolução, por um acúmulo de energia que, sem ninguém esperar, há um salto de qualidade. Em um país que é notoriamente racista, eleger alguém que nem nasceu nos Estados Unidos, que vem de fora do establishment, nem é da tradição branca e protestante americana é incrível. Nem da tradição cristã, porque originalmente ele era muçulmano.

Eu tenderia a ver, como teólogo, um sinal de que Deus tem misericórdia da humanidade. Por outro lado, devemos pensar politicamente e superar a visão da leitura burguesa da história que valoriza apenas indivíduos. Temos que ver é o Governo Obama e quais interesses ele vai representar. O orçamento militar do país, por ano, é de 1,2 trilhão de dólares. Com 20% deste dinheiro, daria para erradicar toda a fome da humanidade. Uma força política que se organiza ao redor da guerra é absolutamente perversa, cruel e sem piedade. Ele prometeu, e isso é de anotar, descentralizar o governo, reforçar aliados e não utilizar a violência, o famoso big stick norte-americano, mas o diálogo.

Ele declarou recentemente que Israel tem direito de se defender, mas que deve aceitar o Estado Palestino. Os palestinos têm direito a ter um estado. É importante que alguém diga isso para não concentrar toda influência dos Estados Unidos sobre Israel e deixar os palestinos no seu desespero. A Palestina não elaborou uma estratégia de guerra, as ações ali são fruto do desespero e da perspectiva de quem não tem outra arma que não entregar a própria vida para defender a dignidade mínima de um povo. Podemos ter esperança. Eu diria até, de forma simbólica, que Obama é um dos frutos do sonho do Fórum Social Mundial. Uma outra política norte americana é possível.

Fonte: Agência Carta Maior